quarta-feira, 11 de abril de 2012

- Não demores assim, que é exasperante. Tu decidiste partir. Então vai!
Pois ela não queria que ele a visse chorar. Era uma flor muito orgulhosa...

Se um dia você adoecer de palavras, coisa que acontece com todo mundo, e ficar farta de ouvi-las, de dizê-las; se qualquer uma que escolher lhe parecer gasta, sem brilho, deficiente; se sentir náusea ao ouvir um “horrível” ou “divino” sobre qualquer assunto, não será com uma sopa de letras, claro, que vai se curar.

Deve fazer o seguinte: cozinhar um prato de espaguete al dente e temperá-lo com o molho mais simples — alho, azeite e pimenta vermelha. Sobre a massa já misturada a esses ingredientes, por mais que a etiqueta o condene, rale uma camada de queijo pecorino. Do lado direito do prato fundo cheio de espaguete assim temperado, ponha um livro aberto. Do lado esquerdo, ponha um livro aberto. À frente, um copo cheio de vinho tinto seco. Qualquer outra companhia não é recomendável. Vire ao acaso as páginas de ambos os livros, mas os dois deverão ser de poesia. Só os bons poetas nos curam do fastio de palavras. Só a comida simples e essencial nos cura da saturação da gula.

Héctor Abad, trechos de Livro de receitas para mulheres tristes.


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